Em fevereiro de 2025, o Open Finance completou quatro anos desde o início da fase 1 do Open Banking. Desde então, o ecossistema cresceu de forma impressionante, consolidando-se como um dos mais robustos do mundo. O último relatório anual, divulgado em 4 de junho de 2025, traz informações inéditas sobre o crescimento, inovação e a profissionalização desse sistema – além de destacar seus ganhos para consumidores e empresas.
Crescimento expressivo em 2024
O Open Finance teve, ao todo, cerca de aproximadamente 27 milhões de consentimentos únicos ativos em 2023, passou-se para 37 milhões em outubro de 2024 – um crescimento de 35%. Considerando o período entre 2023 e 2024, o ecossistema atingiu 60 milhões de consentimentos ativos, com aumento de aproximadamente 48% no volume de troca. Já as transações via APIs alcançaram mais de 1 bilhão de comunicações por semana, com 100% de crescimento ao longo de 2023. E os bancos investiram cerca de R$ 2 bilhões para a implementação e melhorias do sistema.
Esses números refletem não apenas a escala técnica, mas também o engajamento dos usuários com o compartilhamento de dados.
Infraestrutura madura e profissionalização
Governança organizada
Em março de 2024, foi instituída a Instrução Normativa BCB nº 441, que elevou o nível de governança e qualidade dos dados, definindo métricas rígidas de monitoramento. Com isso, evitam-se inconsistências e fraudas – esse marco uma infraestrutura mais confiável.
Nova estrutura associativa
Cresceu a consolidação institucional, com criação da Associação Open Finance, CNPJ próprio, conselho formado por representantes dos principais bancos, fintechs, cooperativas e vozes independentes. Essa profissionalização traz maior transparência e responsabilidade ao ecossistema.
Inovações em pagamentos e portabilidade
Quando falamos de inovações em pagamentos e portabilidade, temos como grandes exemplos os casos do Pix Inteligente, do Pix Automático e dos pagamentos recorrente. O Pix Inteligente foi ao ar em 2024, permitindo transferências programáveis entre contas do mesmo usuário. Já em 2025, introduziu-se o Pix Automático, similar ao débito automático, mas com custo menor e maior inclusão de fintechs menores. Por fim, com os Agendamentos recorrentes, viabilizou-se os pagamentos automáticos de mesadas e assinaturas. Essas evoluções facilitam a vida dos usuários, que agora podem automatizar pagamentos, organizar melhor suas finanças e evitar atrasos.
Além disso, outro grande destaque é a Jornada Sem Redirecionamento (JSR), prevista para liberação geral em 28/02/2025, que permite pagamentos por Pix diretamente, sem redirecionamento ao app bancário. Tem alta interoperabilidade, viabilizando o “Pix por Aproximação” via NFC). O Banco Central planeja intensificar a adesão a esse sistema, tornando-o padrão em transações digitais até 2026.
Outro destaque é a portabilidade de crédito via Open Finance, que permitirá migração de contratos em até 3 dias, aumentando a competição, derrubando taxas abusivas e beneficiando o consumidor.
Também já foi anunciada o EPOC (Encaminhamento de Proposta de Crédito), um modelo padronizado para que correspondentes bancários possam enviar dados (com consentimento) a diversas instituições e ofertar múltiplas condições de empréstimo simultaneamente.
Inclusão de pessoas jurídicas
Até recentemente, menos de 10% de consentimentos ativos eram de pessoas jurídicas. Em 2024, houve um aumento significativo – quase o dobro de adesão entre empresas, ainda que representem uma minoria do total. Com novas regulamentações, a previsão é intensificar a participação de empresas e varejo, ampliando a oferta de soluções corporativas via Open Finance.
Benefícios para usuários e instituições
Para os consumidores (Pessoas Físicas), podemos destacar como grandes benefícios: Controle dos dados (o cliente escolhe quais informações compartilhar, com quem e por quanto tempo); Melhores produtos (acesso a ofertas personalizados, taxas competitivas e crédito mais barato); Jornadas simplificadas (pagamentos automáticos, portabilidade de crédito ágil e mobilidade entre instituições); Inovação de serviços (Pix via aproximação, e-commerce com check-out integrado, pagamentos por app, etc).
Já para as empresas (bancos, fintechs, correspondentes), os benefícios são: Onboarding e análise mais rápida (acesso à base de dados reduz tempo de verificação e chances de fraude); Produtos personalizados (criação de ofertas baseadas no perfil real do cliente); Eficiência operacional (automação de processos reduz custos e melhora a precisão de decisões); Expansão de negócios (novos modelos como EPOC, embedded finance e integração com Open Insurance).
Desafios ainda a superar
Apesar do progresso, o relatório identifica pontos que ainda precisam ser aprimorados:
- Engajamento do usuário: menos de 20% da população fez uso consciente do compartilhamento de dados (em outubro de 2024, apenas ~19% da população bancarizada).
- Educação e comunicação: vital explicar melhor os benefícios e remover receios sobre a segurança dos dados.
- Profissionais de tecnologia: escassez de profissionais qualificados para sustentar o crescimento acelerado.
- Padronização e interoperabilidade: embora as APIs estejam maduras, ainda há diferenças entre instituições que dificultam integração plena; reforço regulatório via IN 441 busca reduzir essas divergências.
- Segurança jurídica: ainda há lacunas sobre a responsabilização em casos de vazamentos ou uso indevido dos dados – uma evolução regulatória será necessária .
O que esperar para o futuro
O roadmap apresentado no relatório 2024 aponta para os seguintes marcos: Queda do uso de boleto/débito automático tradicional, com aumento do Pix Automático; Adoção irrestrita da JSR/Pix por Aproximação, a partir de 2026, com ampla adesão obrigatório; Arranque da portabilidade de crédito e EPOC ainda em 2025; Crescimento da participação de empresas no ecossistema; Monitoramento mais rigoroso do Banco Central sobre qualidade dos dados e indicadores de segurança – com multas e exigências para quem falhar no alinhamento; e Convergência com o Open Insurance (seguros) e futuros pactos em Open Capital Markets, que integrarão ainda mais o setor financeiro brasileiro.
Além disso, a inteligência artificial – com análise de dados e machine learning – deve potencializar a personalização de produtos, precificação dinâmica e recomendação inteligente em 2026 e além.
O relatório anual 2024, publicado neste mês, mostra o Open Finance brasileiro como um sistema maduro, competitivo e inovador. O crescimento de usuários e consentimentos, aliado à estrutura profissionalizada, à evolução normativa e às inovações em pagamentos e crédito, mostra que o Brasil está entre os líderes globais em Open Finance.
Para os usuários, isso significa mais poder sobre seus dados, economia, praticidade e acesso a serviços feitos sob medida. Para as instituições, a vitória está na eficiência, na capacidade de criar produtos melhores e na conquista de novos modelos de negócio.
Ainda há desafios – principalmente na educação dos usuários, segurança jurídica e qualidade técnica –, mas o caminho traçado é promissor. O Brasil deve seguir inovando, com expansão para seguros, mercado de capitais e integração cada vez mais profunda entre tecnologia e finanças.